Além de atuar como profissional de projetos, esse ano faz 17 anos que dou aula em cursos de pós-graduação em projetos. Tive sorte de participar das turmas precursoras, dos primeiros lançamentos e das melhores escolas de negócios.

Foram mais de 300 turmas no Brasil todo. Os alunos de cada turma me trouxeram um aprendizado especial e tenho que agradecê-los.

Conheço e convivo com professores de diferentes universidades, pesquiso os programas de cada escola e posso dizer que existe uma maneira peculiar do brasileiro ofertar curso de gerenciamento de projetos. Essa experiência me diz que é hora de evoluir.

No estágio em que estamos, não acredito que seja uma boa ideia oferecer cursos de pós graduação cuja lista de disciplinas parece mais uma cópia do índice do PMBOK. Gerenciamento de escopo, prazo, custo, qualidade, tempo, risco, aquisições. A soma disso tudo não cria um gerente de projetos. O desafio de agir em equipe é muito maior. Ainda que ferramentas e processos sejam importantes, o foco na interação humana deve ser muito maior.

A robustez do livro PMBok, com seus 47 processos, me ajudou na carreira e considero a lógica contida nesse framework interessante.

Porém, o estudante que está vendo o guia pela primeira vez acaba se concentrando no funcionamento de cada processo, sem enxergar o todo de maneira simplificada. Se o aluno não entender o simples, pode apostar que vai entender menos ainda o complicado, mergulhando no detalhe de cada um dos 47 processos.

A armadilha que espreita todo estudante de pós graduação de projetos é simplificar pelo lado errado, adotar “receitas de bolo” para preencher templates e documentos sem ter a clara noção do que aquela informação ajuda ou ajudará nos projetos.

O grande desafio é importar uma metodologia usada inicialmente na NASA e no departamento de defesa americano, que serve para criar porta-aviões, e adapta-la para nossos problemas brasileiros. Nossas empresas são menores, trabalham com menos recursos, todos tem que fazer um pouco de tudo, existe menos margem para especialização em comparação com as empresas americanas.

Como boa parte dos alunos são egressos de organizações não tão grandes assim, acabam tendo dificuldade para transportar o que está sendo visto em aula para seu dia-a-dia.

Existe desafio de mudança nos TCC’s também. Muitos dos cursos de pós graduação pedem que os alunos, em grupo, produzam um plano de projeto tradicional de 60 a 70 páginas como trabalho de conclusão de curso. Normalmente, os alunos se cotizam na empreitada, cada um assumindo a responsabilidade por um dos muitos artefatos que compõe esse plano (Declaração de escopo, Estrutura Analítica do projeto, Matriz de responsabilidade, cronograma, orçamento, plano de risco, plano de comunicações etc.).

Não é incomum que acabem produzindo um documento “Frankenstein”. Ainda que academicamente aceitável, no contexto de uma organização com desafios reais se encaixa mal.

Existem problemas de balanceamento das disciplinas. As aulas normalmente acabam se concentrando excessivamente no planejamento, mais de 80% das aulas. Apenas 20% ou menos abordam execução. Ainda que o planejamento seja importantíssimo na prática, sabemos que os projetos são 80% execução. Entendo que existam desafios de falar de execução dentro dos limites de uma sala de aula.

Ainda assim existem problemas de contextualização. No momento em que vivemos em crise econômica e política, é preciso não apenas saber fazer projetos da maneira correta mas fazê-los mais rápido e com menor custo. Para isso a alternativa seria mergulhar no Lean management e nas disciplinas ágeis como Scrum e Kanban. No entanto, em sua grande maioria, os cursos não abordam essas técnicas e nem esses temas.

Com todos esses desafios, espero dar a minha contribuição sendo um agente influenciador.

E o primeiro passo já dei, escrevendo esse artigo provocador.